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RACISMO NO BIG BROTHER BRASIL | BBB: CASOS DE POLÍCIA #1

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Ah, na época eu fiquei assim. Eu nunca fui
a uma delegacia prestar qualquer tipo de   depoimento. Não teria o porquê de eu ser preso
por causa de uma brincadeira. Hoje em dia tem   muito esse negócio de machismo, feminismo,
racismo, tá demais. Cem mil pessoas marcam   o Boninho: olha, Boninho, tá acontecendo um crime
lá. É para baixar um carro de polícia lá na porta,   é para o delegado, é pro Ministério Público,
sabe esse tipo de coisa? Eu fico imaginando,   né? A pessoa entrou ali no programa para
tentar ganhar um milhão e meio, e sai e vai  direto para a delegacia. Olha, eu assisto o BBB desde a primeira
edição. Eu lembro que no início era sempre   qualificado como um lixo, mas com o tempo,
eu acho que essa percepção foi mudando. O programa começou de certa forma a mostrar que
ele conseguia refletir a realidade para o bem e para o mal. E vários deles viraram
casos de polícia nos últimos anos.   Gente, não coloca nada polêmico pelo amor de
Deus. No começo, eu tava como um dos favoritos,   pelo que me falaram. Não tô falando porque eu
sei, foi coisas que me falaram. Eu acredito que   talvez eu tenha feito algumas brincadeiras que
foram mal-interpretadas, entendeu? Porque eu sou   uma pessoa que eu brinco muito. Brincava,
né, até então, porque eu aprendi a lição, né? A hora que eu sai minha mãe já me abraçou
assim, falou assim: “não fala nada do gato”,   que eu tinha falado lá numa ocasião lá que eu
falei, brinquei, falei uma coisa chata lá, fiz uma brincadeira infeliz. Aí eu tipo não sabia o
que que tava acontecendo, daí depois os diretores   do programa vieram conversar comigo e falaram:
“ó, tá acontecendo isso, isso e isso, mas a gente   sabe que você é uma pessoa humilde, você vai tirar isso de letra, mas tá acontecendo isso, isso e isso”. Onde que eu fui parar por causa
das brincadeiras, aí eu aprendi, realmente. Mas na hora que eu tava de frente com o delegado, eu fui contando a situação para ele,   ele viu os vídeos, ele viu o vídeo e falou
assim: “ó, não teve nada, ele foi arquivado”. Ah, eu acho que toda a seleção é pensada. É
que no começo as pessoas não sabiam ler jogo,   não sabiam o que dava mais certo ou não diante
do gosto do público. Depois com todas as edições   vindo a cada ano, as pessoas foram aprendendo,
absorvendo o esquema. Acho que por causa disso   também a partir da 15, 16 já começou com polêmica.
Eu acho que era uma coisa assim de produção mesmo.   “Vamos botar, né, para chacoalhar essa história
para não deixar o jogo tão óbvio assim”. E aí   erraram a mão. O caso da Paula von Sperling lá,
né? Aquela menina era um preconceito ambulante assim. Em todas as faixas que você pudesse
imaginar, ela se pronunciava dessa maneira. Se eu fui campeã é porque eu merecia mesmo.
Acredito que eu fui autêntica, eu não tive medo   de dar minha cara mesmo lá. Que eu falei muita
coisa que o povo brasileiro fala, mas que eles   são realmente bastante julgados também. E eles me
viram nessa situação, se viram nessa situação. Ai,   várias coisinhas pequenas que eu falava lá dentro,
que é café preto, humor negro, essas coisas assim. A Paula entrou no BBB com a intenção de
provocar. Ela fez vários comentários que   puderam ser considerados de cunho racista. Ou
foram vistos como de cunho racista. Posso até   dar alguns exemplos. A gente pode resgatar frases
que ela disse que deixam bem claro a postura que ela adotou no programa. O que é humor negro? Humor negro é você falar, tipo assim, começar a pegar uma pessoa negra e começar a fazer piadinha contra ela. Isso é humor negro. Isso é humor negro? Minha vó é uma preta e a irmã dela é uma branca do cabelo   lisão e minha vó cabelo ruim, né? Eu também tenho cabelo ruim. Numa dessas conversas dela com a Gabi, com o Rodrigo, ela comparou  racismo com ser chamada de loira burra. Olha a frase dela: “vamos supor. Alguém faz um ato   de racismo contra um negro e fala assim ‘você é um neguinho não sei o quê’, mas se chega, por exemplo,   numa loira e fala ‘essa é uma loira burra e tal’,
começa a denegrir a pessoa por ser loira”. É que na minha edição 19, acho
que se não me engano, foi a edição com   mais participantes pretos de todas as edições. A
gente sabe que o BBB 19 ele foi bem dividido ali, né? Tinha dois grupos: a gaiola, que era o meu grupo, que era o baile da gaiola, e tinha o grupo camarote. Eu não sei se tinha exatamente
alguma intenção de eles colocarem ó, esse ano   a gente vai colocar seis pessoas pretas, vai colocar cinco. Eu não sei exatamente se tinha alguma intenção, eu não posso afirmar isso aqui. Eu participei de uma seleção do BBB.   E aí ficou muito claro para mim em determinado
momento, quando teve algumas dinâmicas de grupo   que essas tensões acontecessem, que no próprio
grupo já as pessoas discordassem. Eu acredito   que a produção do BBB busque pessoas que vão
fazer com que essas discussões raciais surjam   justamente porque é um tema que se tornou
muito forte nas redes sociais em todos os   lugares. É algo que traz audiência, né? Talvez em
outros tempos, dar atenção para isso não trouxesse   tanta audiência assim. Só que hoje o racismo
também pode ser visto como algo lucrativo. Duas gerações né? Uma aqui e a antiga aqui. É que
assim, quando eu entrei lá, em 2002, ainda nem tinha internet, na realidade, na minha época. Não tinha Instagram, não
tinha Facebook, modo de dizer. Tinha, mas era bem devagar. Porque naquela época se você falava alguma
palavra que não é legal, não soa tão bem, às vezes   passava batido, despercebido. Hoje não passa.
A internet chupa e te arrepia. Tipo cê falar   alguma coisa, tipo a menina do Big Brother anterior falou: “pô tomar um café pretinho”. A menina   foi julgada absurdamente. Então quer dizer,
hoje as palavras que você fala ali, a internet   já viraliza também. Além da TV, tem a internet,
mas quem viraliza as polêmicas? A internet. Com certeza houve um tempo não muito distante
que a gente normalizava vá muitos comportamentos   que eram situações extremamente graves,
ofensas graves. Quando a gente avalia alguns   comportamentos do passado, né, a gente já olha de uma forma diferente e certamente encontra ali situações claras de violência. Tiveram
outras coisas também. Eu tive a situação do   bonequinho, que eles me colocaram um bonequinho com cabelo black power para lavar a louça.   A culpa é da produção do Big Brother? Sim,
porque não viram que poderia ofender, mas é   também da fábrica que faz aquilo e vende, vende
até hoje. Foi uma coisa muito natural eu chegar, ver um boneco com cabelo black power para lavar
a louça e eu dizer: “poxa, gente isso aqui me ofende. Isso aqui não vai ser usado para isso”. Realmente ofenderia qualquer negro, negra que entrasse ali. Parece até que o racismo aumentou, né, nas
últimas edições do BBB. Só que em outras   edições teve casos também muito sérios. E um
deles é no BBB 4, que tem a Sol. Tem ofensas racistas ali muito fortes. Se essa briga fosse exibida no BBB 21 talvez o público abraçasse muito mais ela [Sol] por   causa dessas discussões. Qual que é o entretenimento de outro
ficar conversando contigo aqui, de basquete, quem   foi o campeão, ou do futebol, ou do vôlei… Não vai dar briga, não vai dar polêmica. O contrato… Eu, se eu entro hoje, as cláusulas tinham que falar: ‘ninguém pode
se processar lá fora’. É o jogo de pressão. Depois eu senti um arrepio, véio. Um arrepio, véi. Começou a tocar umas músicas esquisita, tá ligado? Não, intolerância não, intolerância não. Porque realmente, o delegado que tava no caso falou: “gente, ele só falou que tem medo”. Eu
não falei nada demais, eu só falei que tinha medo. Quando você fala que você tem medo de alguma coisa,
você tá expondo uma opinião, né? Passou, isso foi um passado. Até fui numa uma moça que mexe com tarô depois. Vi que não era aquilo, sabe? Quando eu disse que tinha medo de macumba lá dentro, foi porque
minha vó ela é negra. Ou preta. Ela é preta. E ela também trabalhava, ela ficava, ela precisou desenvolver
o lado espiritual dela no terreiro. Então eu cresci   ouvindo as histórias dela, eu cresci com a minha
avó pegando espírito, essas coisas. Então eu realmente   tinha medo do que a minha vó me passava, me passa, então quando eu expressei lá dentro foi por um   contexto que eu vivi a minha vida toda. Então eu
fui interpretada totalmente errado. Você não vê alguém falando que tem medo do judeu, alguém
falando que tem medo de outras religiões, só as   religiões de matriz africana? Não tem outras questões? O racismo não perpassa aí? Porque a liberdade de expressão   tem limites, justamente quando passa a ser uma
ofensa, e não uma opinião, se a gente já chegou   numa compreensão judicial de que isso é crime,
então não entra dentro de liberdade de expressão. Ficou claro durante o BBB 19 que a Globo lavou
as mãos em relação a Paula. Queria ler a frase   que o Leifert disse quando ele anunciou a Paula
como campeã. É muito impressionante. Ele falou:   “Vence o BBB 19 a pessoa que teve a audácia de
ser imperfeita. A pessoa que na frente de todo   mundo teve a ousadia de ser real em 2019”. Foi
muito estranho, sabe, porque já tava caracterizado   naquele momento que ela tava fazendo comentários
muito ofensivos. Pra ver como é no Brasil né? Ela errou   em tudo e mesmo assim ganhou um prêmio, então… Hoje a
lembrança do BBB 19 é que foi uma edição um pouco chata. Não, eu acho importante também
ser discutido, inclusive a história da zoofilia, o preconceito  de cor, a história “ó, o cabelo é ruim,
a outra é gorda”. Essa coisa toda sempre é uma coisa atual. Mas ali ficou muito carregado o aspecto policial da coisa né, de realmente   ser extremamente negativo. Não acho que tinha
por onde respirar nessa edição. Ela era pesada   né, e quem ganhou então jamais deveria ter ganhado.
Acho que acertaram muito mais na escalação de   participantes até quando colocaram o Babu. Ele
obviamente era uma pessoa aqui que tinha   um conhecimento de questões raciais, mas não
era o super militante. Tinha a Thelma, que ela não   estava dentro também de maneira muito profunda
dessas discussões, mas representava muita coisa, se posicionava quando era necessário. Não teve
um comentário racista diretamente ao Babu, só que ele falava do olhar. E também o ponto da Ivy. E dela votar sempre nele. “Você votou seis ou sete vezes
em mim e eu nunca fiz nada pra você”. “Mas Babu.” “Você nem nunca tentou se aproximar de mim, cara. Essa é a
primeira conversa que a gente está tendo que   não foi aquela da Flay. É a primeira. 70 dias,
você tá 60. Sessenta dias e você nunca veio   conversar comigo”. Poucas pessoas conseguiriam
continuar até o final do programa como o Babu continuou.   Você vê assim dentro do que ele passou
emocionalmente, do que ele segurou. Muito raro até   dentro do próprio BBB, seguir assim sem perder
a linha. E o 20, o 20 eu achei uma catástrofe. Aquela coleção de homens machistas, aqueles trogloditas realmente. Declarações dele sim foram homofóbicas. Dizia respeito a um caso de violência sexual. Era para
eu tá saindo na rua e todo mundo me xingando daquilo. Foi realmente o princípio do fascismo
ali. O Boninho não previa, mas aconteceu lá.

Written by Marcelo Wagner

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